MARIA, SEMPRE MARIA, A NOSSA MÃE...


Maria, sempre Maria, a nossa Mãe…

A verdade revelada a respeito da Mãe de Jesus e sua relação maternal com a família humana acentuam a dignidade incompreensível de uma criatura que “dá nascimento ao seu Criador” quando “na plenitude dos tempos, Deus enviou seu Filho, nascido de uma mulher,… para que recebêssemos a adoção de filhos (Gál 4,4-5)”.

“…A Virgem Maria, que na Anunciação do Anjo recebeu o Verbo de Deus no coração e no corpo e trouxe ao mundo a Vida, é reconhecida e honrada como verdadeira Mãe de Deus e do Redentor…. e por isso filha predileta do Pai e sacrário do Espírito Santo. Por esse dom de graça exímia supera de muito todas as outras criaturas, celestes e terrestres. Mas ao mesmo tempo está unida, na estirpe de Adão, com todos os homens a serem salvos.”

Recapitulando a Sagrada Escritura à luz do Magistério e da Tradição
Com efeito, a figura da mulher, Mãe do Messias, está intimamente associada a Ele ao longo da Sagrada Escritura: no Velho Testamento já é profeticamente esboçada na promessa da vitória sobre a serpente (Gn 3,15). É também a Virgem que conceberá e dará à luz um Filho cujo nome será Emanuel (Is 7,14; cf. Miq 5,2-3 – Mt 1,22-23). Com ela completam-se os tempos e se instaura a nova Economia, quando o Filho de Deus assumiu dela a natureza humana, a fim de livrar o homem do pecado pelos mistérios de Sua carne.

Dotada desde o primeiro instante de sua conceição dos esplendores de uma santidade inteiramente singular (cf. Lc 1,28), Maria, filha de Adão, consentindo na palavra divina, se fez Mãe de Jesus (cf. Lc 1,38). E abraçando a vontade salvífica de Deus com coração pleno, não retida por nenhum pecado, consagrou-se totalmente como serva do Senhor à pessoa e obra de seu Filho, servindo sob Ele e com Ele ao mistério da redenção.

Sua participação é significativa em todo o ministério público de Jesus: nas bodas de Caná, movida de misericórdia, conseguiu por sua intercessão o início dos sinais de Jesus, o Messias (cf. Jo 2,1-11). Recebeu as palavras pelas quais Jesus proclamou bem-aventurados os que ouvem e guardam a palavra de Deus (cf. Mc 3,35 e Lc 11,27-28), tal como ela mesma fielmente o fazia (cf. Lc 2,19 e 51). Assim, avançou em peregrinação de fé. Manteve fielmente sua união com o Filho até à cruz, onde esteve não sem desígnio divino (cf. Jo 19,25). Sofreu junto com seu Unigênito e com ânimo materno se associou ao Seu sacrifício, consentindo com amor na imolação da vítima por ela mesma gerada. Finalmente, pelo próprio Cristo Jesus moribundo na cruz, foi dada como mãe ao discípulo (cf. Jo 19,26-27).

Intercedeu no cenáculo, implorando pelo dom do Espírito (At 1,14), o qual já na Anunciação a havia coberto com sua sombra.

Preservada imune de toda mancha da culpa original, terminado o curso da vida terrestre, foi assunta em corpo e alma à glória celeste e exaltada pelo Senhor como Rainha do Universo (cf. Pio XII).

Imagem e Modelo da Igreja
A Mãe de Jesus, tal como está nos céus já glorificada de corpo e alma, é a imagem e o começo da Igreja como deverá ser consumada no tempo futuro. Assim também brilha aqui na terra como sinal de esperança segura e de conforto para o povo de Deus em peregrinação, até que chegue o dia do Senhor (cf. 2Ped 3,10). A Mãe de Deus é tipo da Igreja na ordem da fé, da caridade e da perfeita união com Cristo (S. Ambrósio).

Na Beatíssima Virgem, a Igreja já atingiu a perfeição, pela qual existe sem mácula e sem ruga (cf. Ef 5,27). Por isso, os cristãos, que ainda se esforçam para crescer em santidade, vencendo o pecado, a ela, como exemplo de virtudes, elevam seus olhos; no ensejo de imitá-la, a Igreja progride na fé, na esperança e na caridade, procurando e cumprindo a vontade divina em tudo. Esta é a razão porque em sua obra apostólica esta se volta para Aquela que gerou a Cristo e de cujo materno afeto devem estar animados todos os que cooperam na missão apostólica da Igreja para a regeneração dos homens.

Mãe da Igreja

O Filho que ela gerou foi por Deus constituído primogênito entre muitos irmãos (Rom 8,29) – os fiéis em cuja geração e formação ela coopera com materno amor…. De modo inteiramente singular, pela obediência, fé, esperança e ardente caridade, ela cooperou na obra do Salvador para a restauração da vida sobrenatural das almas. Por tal motivo ela se tornou para nós mãe na ordem da graça; maternidade que perdura ininterruptamente, pois, assunta aos céus, por sua intercessão continua a granjear-nos os dons da salvação eterna. Por sua maternal caridade, cuida dos irmãos de seu Filho, que ainda peregrinam rodeados de perigos e dificuldades, até que sejam conduzidos à feliz pátria.

“Mediadora”?

Um só é o nosso Mediador: “Porque um só é Deus, também há um só Mediador entre Deus e os homens, o homem Cristo Jesus, que se entregou para redenção de todos” (1Tim 2,5-6). Todavia a materna missão de Maria a favor dos homens de modo algum obscurece nem diminui essa mediação única de Cristo, mas até ostenta sua potência…: flui dos superabundantes méritos de Cristo, repousa na sua mediação, dela depende inteiramente e dela aufere toda a força. De modo algum impede, mas – ao contrário – favorece a união imediata dos fiéis com Cristo.

Corredentora, Mediadora e Advogada!

“Dentro do tipo geral de mediação Mariana na cooperação da Mãe com o Salvador para unir a humanidade com Deus, são revelados três elementos específicos, constituindo aspectos distintos, se bem que essenciais, desta mediação universal. Maria, tendo sido providencialmente preparada pelo Pai através de sua Imaculada Conceição, participa unicamente com Jesus Cristo, o divino Salvador da humanidade, como Corredentora com o Redentor, por sua livre e ativa aceitação na Anunciação e sua fiel perseverança na união com seu Filho na Cruz. Depois de sua Assunção ao Céu, Maria continua esse ofício salvífico em serviço a Cristo, o único Mediador, como Mediadora de toda graça e dádivas da salvação eterna, que ela realiza em união íntima com o Espírito Santo, o Santificador. Mais ainda, Maria continua intercedendo em favor da família humana ante o trono de Cristo, vitorioso Rei de todas as nações, como Advogada do Povo de Deus. Dessa forma, a mediação maternal universal da Mãe de Jesus se manifesta nestes três papéis essenciais…:Corredentora, Mediadora e Advogada.”

Um dos principais teólogos Protestantes, John MacQuarrie, Professor de Oxford, em seu destacado trabalho “Maria para todos os Cristãos”, afirma, em defesa da legítima aplicação do titulo de “Corredentora” a Maria:

“Nos vislumbres de Maria que temos nos evangelhos, sua postura ao lado de seu Filho e suas orações e intercessões com os apóstolos são formas particularmente extraordinárias pelas quais Maria compartilhou e apoiou a obra de Cristo; são também formas pelas quais a Igreja como um todo pode ter parte na corredenção. Mas é Maria quem logrou simbolizar essa harmonia perfeita entre a vontade divina e a resposta humana, de tal forma que é ela quem dá significado à expressão Corredentora. Mais ainda, há o contexto adicional da encarnação da Palavra. Nesse contexto, a linguagem de corredenção é também adequada, se bem que de forma algo diferente, porque a esse respeito sua contribuição foi única e, por sua própria natureza, não poderia ser literalmente compartilhada com ninguém mais. Estamos pensando nela agora não apenas como membro representante ou pré-eminente da Igreja, senão como Mãe de Deus. A aceitação voluntária de Maria de seu papel indispensável nesta cadeia de eventos que contribuíram para a encarnação e a redenção que traz consigo foi necessária pela natureza do Senhor e pela criação da própria Igreja.” 

…Mas que em nada compete com Cristo – o único Mediador
Isto, porém, se entende de tal modo que nada derrogue, nada acrescente à dignidade e eficácia de Cristo, o único Mediador.

Com efeito, nenhuma criatura jamais pode ser colocada no mesmo plano com o Verbo encarnado e Redentor. Mas como o sacerdócio de Cristo é participado de vários modos, seja pelos ministros seja pelo povo fiel, e como a indivisa bondade de Deus é realmente difundida nas criaturas de modos diversos, assim também a única mediação do Redentor não exclui – mas suscita – nas criaturas uma variegada cooperação, que participa de uma única fonte .

A devoção a Maria enaltece a SS. Trindade

O culto a Maria difere essencialmente do culto de adoração que se presta à SS. Trindade – e o favorece poderosamente. As várias formas de piedade para com a Mãe de Deus (que a Igreja aprovou dentro dos limites da sã e ortodoxa doutrina) fazem com que, enquanto se honra a Mãe, o Filho seja devidamente conhecido, amado, glorificado e que sejam guardados os seus mandamentos.

Maria-Mulher, modelo de autêntico “feminismo”

A resposta de Maria, “…. esta resposta feminina, fiel e livre da mulher … à vontade de Deus oferece um exemplo dinâmico dos dons únicos da feminilidade ao serviço de Deus (e sua profunda manifestação na glória da maternidade), e o agradecimento a Deus por seu princípio feminino criado no plano providencial da redenção. Porque o Pai ‘recomendou-se a Si mesmo à Virgem de Nazaré’, confiando o todo da redenção humana à resposta de uma mulher.”

Dignidade de Maria e Diálogo Ecumênico -compatíveis?

“Na sua Constituição Apostólica Fidei Depositum, introduzindo o novo Catecismo da Igreja Católica, o Papa João Paulo II nos diz: ‘Guardar o depósito da fé é a missão que o Senhor encomendou à sua Igreja, e a qual ela cumpre em cada etapa…’. A tarefa principal encomendada ao Concílio pelo Papa João XXIII foi a de guardar e apresentar melhor o precioso depósito da doutrina Cristã, para torná-lo mais acessível ao fiel Cristão e a toda gente de boa-vontade. Parte deste depósito sagrado é a revelação do papel Corredentor de Maria que, como o Prof. MacQuarrie assinala corretamente, é uma verdade mariana e um exemplo concreto do qual todos os cristãos e toda gente de boa-vontade merecem beneficiar-se, em suas respostas eclesiais e individuais à vontade divina:

‘O assunto não pode ser resolvido à luz dos deslizes de exagero e abuso, ou apelando a textos ilhados, tais como a primeira epístola de Timóteo 2,5, ou mudando de estilo em teologia e espiritualidade, ou pelo desejo de evitar qualquer coisa que poderia ofender aos companheiros no diálogo ecumênico. Entusiastas podem ter impensadamente elevado Maria a uma posição de igualdade virtual com Cristo, mas tal aberração não é uma conseqüência necessária de reconhecer-se que pode haver uma verdade a expressar-se em palavras como Mediadora e Corredentora. Todos os teólogos responsáveis estariam de acordo em que o papel co-redentor de Maria está subordinado e é auxiliar ao papel central de Cristo’.” 

Os que adoram o Filho rendem à Mãe legítima veneração e amor, invocam-na e imitam-na, de acordo com suas mesmas proféticas palavras em Lc 1,48: “Chamar-me-ão bem-aventurada todas as gerações, porque fez em mim grandes coisas o Poderoso”. A Igreja não hesita em proclamar esse múnus subordinado de Maria, recomendando-o ao coração dos fiéis para que, encorajados por esta maternal mediação e proteção, mais intimamente adiram ao Mediador e Salvador.

A dignidade da personalidade humana em liberdade – e o determinismo
“… A aceitação livre e humana de Maria, assim como sua contínua cooperação livre, culminando no Calvário, manifesta a dignidade pessoal na liberdade humana e o potencial sublime para a participação na salvação, que Deus deu a cada pessoa humana. O exemplo Corredentor de Maria serve como um corretivo a muitas teorias do determinismo, Reforma, ou às que de outros modos minimizam ou obscurecem esta dignidade da personalidade humana em liberdade. Como o Prof. MacQuarrie novamente faz notar:

‘Retornemos agora à consideração de Maria como Corredentora. Talvez tenhamos que reconhecer que Barth e os demais tinham razão em crer que o lugar dado a Maria na teologia Católica é uma ameaça à doutrina da sola gratia, mas creio que isso só acontece quando a doutrina da sola gratia é interpretada numa forma extrema, – quando ela própria passa a constituir uma ameaça a uma visão genuinamente pessoal e bíblica do ser humano feito à imagem de Deus e destinado a Deus, e a ser, ainda, capaz de responder a Deus e servir a Deus na obra de contribuir à criação. Esta visão de esperança da raça humana é personificada e iluminada em Maria’.”

A ‘visão bíblica’ do ser humano é essencialmente livre, personalista, não-determinista; e nenhuma criatura da Palavra de Deus personifica a dignidade e perfeição dos dons da liberdade humana e da personalidade humana como o faz Maria, a Virgem obediente e Mulher da Escritura, a Nova Eva, cuja cooperação livre e ativa com a graça ‘foi causa de salvação tanto para si como para todo o gênero humano’ (S. Irineu).” 

“Vox Populi, Vox Dei”

Expressa a realidade da direção do Espírito Santo sobre o fiel universal em termos de fé e desenvolvimento doutrinal, especialmente nas doutrinas diretamente relacionadas com a expressão devocional. Quanto a este tópico, escusaremo-nos da ociosa tarefa de enunciar longas listas dos santos (a principiar dos próprios apóstolos) e dados dos fiéis no mundo inteiro (inclusive de outras religiões) devotos de Maria. Notadamente, a Igreja tem enfrentado, antes que resistência ao culto a Maria, a tarefa de modelá-lo, corrigindo eventuais exageros e estreiteza de espírito. Sob a direção do Magistério, recomenda cultivar-se o estudo da Sagrada Escritura, dos santos Padres e Doutores, e das liturgias da Igreja, para retamente ilustrar os ofícios e privilégios de Maria – que sempre levam a Cristo, origem de toda verdade, santidade e piedade.

Devoção sentimental – ou modelo de cristianismo atuante?

O culto a Maria não se constitua em estéril e transitório afeto, nem em vã credulidade; mas, procedente da fé verdadeira pela qual somos levados a reconhecer a excelência da Mãe de Deus, nos leve à imitação das suas virtudes.
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