NOSSA SENHORA MÃE DA PROVIDÊNCIA


Nossa Senhora Mãe da Providência – origem e significado da devoção 

Como se sabe, Dom Orani recebeu do Papa Francisco a indicação de uma igreja em Roma. Trata-se da igreja de Santa Maria, Mãe da Providência, sede da paróquia do mesmo nome, localizada na região romana conhecida como bairro gianocolense ou Monte Verde.

Todo cardeal, ao ser nomeado, recebe do Papa uma igreja da diocese de Roma para cuidar. Este antigo costume tem sua explicação no fato de que um cardeal se associa muito diretamente à atividade pastoral do Bispo de Roma.

Dom Orani não assumirá as responsabilidades de pároco daquela paróquia. Lá existe um pároco, que vai continuar seu grande trabalho. A nós, cariocas, cabe permanecer rezando por Dom Orani, tanto nas atividades que já desempenha quanto naquelas que vai desempenhar a partir de agora, de acordo com as necessidades de toda a Igreja.

Mãe da Providência

Tanto na oração quanto nas atitudes do dia-a-dia, cabe-nos acolher tudo que Deus vai nos falando através dos diversos acontecimentos. Um deles, sem dúvida, é a indicação da igreja Santa Maria Mãe da Providência. Em primeiro lugar, estamos, mais uma vez, diante da Virgem Maria, aquela à qual Dom Orani, em sua Carta Pastoral, manifestou seu profundo amor, desejando que imitemos a Virgem Maria no amor a Deus e ao próximo [1]. Nós, cariocas, que tanto amor temos pela Virgem Maria, com tantas igrejas a ela dedicadas, saberemos aumentar ainda mais nosso amor pela Mãe do Salvador.

Em segundo lugar, trata-se de um título bem específico: Mãe da Providência. Sabemos que vários são os títulos atribuídos à Virgem Maria, pois, nela, encontramos a materna intercessão e todas as virtudes cristãs. Cada título, porém, manifesta uma particularidade a qual somos convidados a meditar.

A história da devoção

O título Mãe da Providência está ligado aos padres barnabitas. Esta congregação foi fundada , em 1530, por Santo Antonio Maria Zaccaria. No início do século XVII, estes padres se viram às voltas com as obras para reforma de uma área de Roma, obra que implicava a demolição de uma igreja e a necessidade de se construir outra. Os padres começaram, então, o trabalho de construção de uma nova igreja, desta vez dedicada a São Carlos Borromeu. Como acontece na maioria das vezes, os recursos para a construção da nova igreja começaram a diminuir.

Acontece que as obras para a demolição da primeira igreja levaram consigo um bonito afresco da Virgem Maria. Por maiores que tivessem sido os esforços dos padres barnabitas, não se conseguiu salvar aquela obra de arte. Os afrescos são pinturas feitas diretamente sobre o gesso ou a argamassa. Não são quadros que se pode remover sempre que necessário. Por isso, precisam de maior atenção e cuidado, nem sempre se conseguindo preservar.

Diante da perda, o arquiteto responsável pelas obras de demolição doou um quadro da Virgem Maria, segurando nos braços um menino. Comparado ao antigo afresco, o quadro era pequeno. Media apenas 54 X 42 cm. Foi inicialmente colocado numa capela dentro da casa. Não tinha sequer um nome. Sabia-se apenas que era mais um quadro apresentando a Virgem Maria com o Menino Jesus nos braços. A peculiaridade ficava por conta das auréolas, aqueles círculos brancos ou brilhantes ao redor da cabeça, indicando a santidade. No quadro, apenas a Virgem Maria apresentava auréola. O Menino Jesus não a tinha. Não se sabe bem os motivos pelos quais o Menino Jesus não apresentava auréola. Sabe-se que o quadro é de Scipione Pulzone, pintor que viveu entre 1550 e 1598. Suas obras retratam a mentalidade da época, o Renascimento.

No século XVIII, uma réplica do quadro foi colocada em local de maior visibilidade, acrescentando-se uma identificação ao mesmo. Informava-se aos passantes que se tratava de Maria, Mãe da Divina Providência. Conta a história que, em pouco tempo, o corredor tornara-se pequeno diante do número de peregrinos que ali compareciam para rezar. Os padres barnabitas optaram por transformar o local em uma capela. Criou-se um grupo de devotos, na época chamados de Arquiconfraria. Em 1888, a imagem foi coroada, oficializando-se, deste modo, a devoção à Virgem Mãe da Providência.

A Providência Divina

Este termo, Providência, está diretamente ligado à ação de Deus junto à humanidade. Refere-se ao reconhecimento de que nunca estamos abandonados. Deus sempre cuida de nós, fazendo-o por caminhos que não imaginamos e do jeito que nem podemos vislumbrar. Quando olhamos a história do surgimento da devoção, deparamo-nos com uma igreja demolida, uma obra de arte não preservada, um pequeno quadro oferecido em substituição e as dificuldades para a construção da nova igreja. Estes fatos nos remetem a toda a nossa vida, tão marcada por alegrias, mas também por dificuldades. Por isso, também nós hoje somos convidados a manifestar a mesma atitude: sempre confiar em Deus. Nesse sentido, confiança e providência se aproximam bastante.

O importante é não imaginar a providência divina como ação automática de Deus, do modo como queremos e quando queremos. Confiar não significa obrigar Deus a agir como achamos que Ele deve agir. Confiar tem uma boa dose de entrega. É como a criança que, mesmo não entendendo situações que acontecem à sua volta, confia nos pais porque sabe que eles a amam. Confiamos em Deus, sabemos que não estamos sozinhos porque Deus nos ama. “Deus tanto amou o mundo que deu seu Filho Único para que todo aquele que nele crer não pereça, mas possua a vida eterna” (Jo 3,16).

A Deus ninguém obriga. Esta é uma ilusão tão combatida ao longo de toda a Bíblia. Em Deus, nós confiamos e acolhemos seu amor, sua providência, do modo como este amor, ou seja, esta providência, se manifesta. Se, nem sempre, as coisas acontecem do modo como queremos, nunca podemos deixar de confiar no amor Deus. Ele nem sempre nos dá o que queremos ou achamos que precisamos. Ele sempre nos dá o que Ele sabe que é bom para nós.

A devoção a N. S. Mãe da Divina Providência surgiu num tempo de grandes transformações. Era o Renascimento. Hoje, estamos num tempo parecido. Tudo está mudando tanto. Não podemos desistir do amor de Deus. Não podemos deixar de confiar no Deus de Amor. “O amor de Deus - lembra-nos D. Orani - é condição de paz e felicidade. ... Quem já o descobriu e acolheu é chamado a transmiti-lo por gestos e palavras”

[1] Cardeal Orani João Tempesta, Carta Pastoral Amar, Unir, Servir, nº 16
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